O deputado federal condiciona a sua participação no pleito ao consenso entre os principais partidos da cidade
Durante visita ao Correio do Estado, na sexta-feira, o deputado federal Geraldo Resende (PSDB-MS) revelou, com exclusividade, que está praticamente fora da disputa pela prefeitura de Dourados nas eleições municipais do próximo ano, uma vez que coloca condições que dificilmente serão concretizadas.
“Saio candidato só se o pessoal de Dourados primeiro arejar um pouco o cérebro, porque lá os eleitores só fazem escolhas perversas, parece que eles têm o dedo podre. Eu fui derrotado na penúltima eleição para a prefeitura de Dourados por pessoas ligadas à contravenção”, declarou o parlamentar.
Geraldo Resende frisou que, na época, foram lançados três candidatos a prefeito, ele, Délia Razuk e Renato Câmara.
“O Renato era para lançar a mulher dele como minha vice, mas decidiu romper, pensando que era o nome novo e seria eleito com facilidade. Ele tirou 20 mil votos que seriam meus e acabei com 43 mil votos, ou seja, 1,5 mil votos a menos que a vencedora da eleição”, lamentou-se.
O deputado federal acrescentou que somente disputará a prefeitura de Dourados outra vez se toda a população do município virar muçulmana e reportar-se a ele como um profeta, pedindo que seja o novo prefeito da cidade. “Gosto de afirmar isso de os eleitores douradenses virarem muçulmanos para pedir que eu saia candidato, mas, mesmo se isso acontecesse, eu ainda iria pensar”, disse, em tom de brincadeira.
No entanto, voltando a falar de forma mais séria, ele reforçou que só colocaria o próprio nome como opção nas eleições de 2024 para administrar Dourados na eventualidade de um consenso de uma frente ampla de partidos.
“Eu só coloco meu nome à disposição se houver um consenso, se as forças políticas da cidade entenderem que é importante criar um projeto que não se restrinja, não se apequene no sentido de ser um projeto pessoal ou um projeto de um partido em busca de poder”, argumentou.
Para Geraldo Resende, ele só sairá candidato se as pessoas que gostam da cidade e estão em vários partidos políticos, como PT, PL, PSDB e MDB, entenderem que é preciso alguém que tenha qualificação, preparo e condições de enfrentar os desafios que vão surgir para melhorar Dourados.
“Se houver essa consciência, então, eu saio candidato, caso contrário, eu não vou ficar disputando, brigando para ser candidato em uma cidade que, para melhorar, precisa de fato de uma administração diferenciada para enfrentar inclusive setores que se apoderaram dela, que vai desde o funcionalismo público, que torna os prefeitos reféns deles, até setores fora da administração municipal, que mandam na gestão”, declarou.
O parlamentar pontuou ainda que Dourados precisa de uma reforma administrativa, pois, em poucos anos, saiu do custo da máquina de R$ 11 milhões para R$ 58 milhões mensais.
“Não sobra dinheiro para fazer qualquer outro investimento. A arrecadação é só para pagar salários. Não sobram recursos para poder investir em qualquer lugar”, disse.
Ele completou que Dourados está crescendo, “mas está crescendo pela capacidade extraordinária da iniciativa privada, alicerçada com a presença muito forte do agronegócio, do comércio e do setor industrial, pois estão no município as principais plantas de Mato Grosso do Sul, principalmente na área de transformação de proteína animal, como a JBS, ou de grãos, como a Coamo”.
APOIO
Questionado sobre quem apoiaria nas eleições municipais do próximo ano em Dourados, Geraldo Resende foi enfático.
“Eu apoiaria alguém que assumisse esse compromisso de melhorar Dourados. Eu não quero ‘fulanizar’, mas darei o meu apoio para aquele ou aquela que de fato assumir esse compromisso, de fazer um uma plataforma de governo e que aborde a questão da precariedade da saúde pública, pois, todos os dias, sou acionado para resolver problemas de saúde na região”, revelou.
O deputado federal ressaltou que, como ex-secretário de Estado de Saúde, sempre é procurado e chega a ser apavorante ter de atender pessoas que estão na porta de um pronto-socorro pedindo atendimento adequado.
“Para resolver a questão da saúde pública em Dourados, será necessária uma habilidade extraordinária. Mas a saúde pública está precária em todo o País? Sim, é verdade, mas existem cidades que conseguiram resolver essa questão. Em Minas Gerais, por exemplo, há vários consórcios municipais que são modelos de gestão na saúde”, exemplificou.
Ele também citou que, no Paraná, há inúmeros modelos em consórcio e, inclusive aqui em Mato Grosso do Sul, há várias cidades com hospitais que são referências, como Costa Rica e Fátima do Sul.
“Esses hospitais estão dando respostas efetivas graças a uma baita estrutura hospitalar. Estou dizendo, eu tive participação nesse processo, são, hoje, modelos para todos os secretários municipais de Saúde de Mato Grosso do Sul, eles demonstram que a boa saúde do SUS pode dar certo”, afirmou.
Segundo o parlamentar, Dourados, infelizmente, está devendo não só para a sua gente, mas para os moradores dos outros 34 municípios para os quais a cidade é tida como referência na área de saúde.
“A Grande Dourados, hoje, tem mais ou menos um milhão de habitantes, portanto, o que vai mal em Dourados impacta todos os outros municípios do entorno. Então, se Dourados tem uma má questão na educação, na saúde e até no comércio, isso impacta todos aqueles municípios da região”, alertou.
Geraldo Resende ressaltou que o “verdadeiro prefeito” de Dourados nos últimos anos foi o ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e agora está sendo o atual governador Eduardo Riedel (PSDB).
“Nos últimos dez anos, esses dois governadores foram os responsáveis pelas grandes obras que foram feitas em Dourados, todas por meio do governo estadual e também de recursos do governo federal, principalmente na época dos ex-presidentes da República que colocaram em Dourados os recursos do Programa de Aceleração do Crescimento [PAC], que fizeram com que a cidade atingisse o patamar de 90% de água tratada”, elogiou.
HOSPITAL REGIONAL
Sobre o Hospital Regional de Dourados, que deve ser entregue entre o fim deste ano e início do próximo, o deputado federal frisou que foi uma iniciativa do ex-governador André Puccinelli (MDB), mas, ao perder a eleição, desistiu de continuar com o projeto.
“Eu sentei com o governador Reinaldo Azambuja para tentar reverter esse processo e tive de falar com os técnicos do Ministério da Saúde para desconsiderar ofícios anteriores. Depois de dois anos e meio, nós conseguimos reverter e o projeto foi retomado. Nós conseguimos, inclusive, garantir uma emenda do ex-deputado federal Marçal Filho [PP-MS], de R$ 4,5 milhões, e obtivemos mais R$ 17,5 milhões, e o governo colocou recurso suplementar de 2018 no montante de R$ 21 milhões”, disse.
Geraldo Resende acredita que o Hospital Regional de Dourados será inaugurado até o fim deste ano.
“Até o fim do ano ou no começo do próximo ano deve ser entregue, esse hospital pode ser um marco na assistência hospitalar, mas o grande problema de Dourados vai desde a atenção primária, que é responsabilidade do município. Tenho certeza de que nem 50% das gestantes fazem o pré-natal”, projetou.
Ele revelou ainda que, até bem pouco tempo atrás, faltava papel higiênico nas unidades básicas de saúde para as pessoas fazerem a assepsia.
“Faltavam lençóis para as mulheres deitarem para fazer um exame, até o aparelho de ultrassonografia estava quebrado. Ou seja, a mesma mulher tinha de deitar no mesmo lençol usado por outra, expondo-se a todo tipo de contaminação”, revelou.
O parlamentar contou ainda que há equipamentos quebrados há três anos e outros que o município perdeu por duas vezes.
“Estou falando de um aparelho de tomografia computadorizada. Perdeu em 2013, porque não conseguiu fazer o processo licitatório adequado. E perdeu agora, na época da pandemia, porque não cumpriu a condicionante, que era uma sala que precisava ser revestida com barita para conter a radiação, ou seja, por causa de algo de custo baixíssimo, ficou sem um equipamento de R$ 3 milhões”, criticou.
Para Geraldo Resende, o que está acontecendo é uma mediocridade tamanha, que ninguém abre a boca para criticar.
“Nenhum vereador, nem a Câmara Municipal, nem as lideranças. Eu ganhei o apelido de pai de todas as obras lá porque tudo o que eu busco eu cumpro. Porque eu trabalho incansavelmente”, afirmou.
Outro exemplo citado pelo deputado federal é o aeroporto municipal de Dourados.
“A obra ficou se arrastando e agora, que eu reassumi o meu mandato, desde o dia 1º de fevereiro deste ano, estou brigando pelo aeroporto. Nós já temos definitivamente o término da primeira etapa. A culpa do atraso é de quem colocou o Exército para fazer, pois o Exército, infelizmente, não tem expertise nem máquina para fazer adequadamente as obras do aeroporto, não é a área dele, o foco do Exército é outro, inclusive, o maquinário dele, pelo descaso de governos anteriores, é obsoleto”, disse.
Agora, conforme ele, a parte do Exército deve terminar em dezembro. “A outra etapa nós conseguimos colocar no PAC, que é a construção do novo terminal, orçado em R$ 50 milhões. O governo do Estado não terá de tirar esse dinheiro do bolso. A prefeitura está fazendo alguns consertos na estrutura do atual receptivo para que o aeroporto possa começar a funcionar”, finalizou.