Em menos de três anos, nove aeronaves foram apreendidas ou caíram na região. Além disso, a PF tomou outras 13 da quadrilha de Motinha
Autoridades paraguaias apreenderam, na manhã desta segunda-feira (9), um helicóptero que estava a serviço do narcotráfico na região de fronteira de Mato Grosso do Sul. A aeronave estava camuflada sob lonas e galhos em uma propriedade rural do país vizinho na Colônia Fortuna, próximo ao distrito sul-mato-grossense de Sanga Puitã, entre as cidades de Ponta Porã e Aral Moreira.
Em cerca de três anos, este é o nono helicóptero apreendido ou que se envolve em acidentes na mesma região. Além disso, nesse mesmo período a Polícia Federal apreendeu 13 helicópteros pertencentes à quadrilha de narcotraficantes supostamente comandados pelo sul-mato-grossense Antônio Joaquim da Mota, o Motinha, que gosta de ser chamado de Dom, numa referência a Don Corleone, mafioso que ficou famoso nas telas de cinema
A descoberta desta segunda-feira ocorreu a cerca de 40 quilômetros de Ponta Porã, na Estância San Isidro, segundo informações do jornal paraguaio ABC Color. Além da aeronave, também foram apareendidas várias armas de grosso calibre, roupas camufladas, celulares e combustível de aviação.
Até o fim da manhã os policiais, que estavam acompanhados pelo Ministério Público, não haviam informado se alguém foi preso ou se ocorreu apreensão de drogas. As autoridades também não informaram se o helicóptero estava ou não em condições mecânicas para decolar.
Embora a região seja conhecida pela produção de maconha, normalmente os helicópteros são utilizados para o transporte de cocaína, que é procedente da Bolívia, Peru e Colômbia.
ROTA DE MOTINHA
No último dia 15 de setembro, outro helicóptero foi apreendido a cerca de 15 quilômetros da região urbana de Naviraí, na região sul do Estado, que nos últimos três anos tem ganhado notoriedade pelo uso deste tipo de aeronave para o transporte de cocaína.
A suspeita principal é de que, assim como a apreensão desta segunda-feira (9), tenha sido outra aeronave ligada à quadrilha comandada por Antônio Joaquim da Mota, conhecido como “Don Corleone”.
Incialmente o piloto fugiu de uma tentativa de abordagem no lado paranaense, em Querência do Norte, e acabou pousando em Mato Grosso do Sul, possivelmente porque não tinha combustível para chegar ao Paraguai.
No começo de agosto, em outra ocorrência, dois ocupantes de um helicóptero foram resgatados com vida depois de um acidente em meio às várzeas do Parque do Ivinhema, também em Naviraí. Com eles foram encontrados R$ 32 mil reais e em seu depoimento disseram que estavam a caminho de uma oficina em Fátima do Sul.
Eles acabaram sendo liberados e depois a investigação apontou que faziam voo clandestino e que pelo menos um deles já tinha sido detido por envolvimento com o megatraficante Motinha, que foi alvo de duas grandes operações da Polícia Federal em maio e junho deste ano e que é conhecido por utilizar helicópteros para transportar cocaína do Paraguai ao Brasil.
HISTÓRICO
A série de acidentes envolvendo helicópteros na região sul do Estado começou em 11 de setembro de 2020, quando uma aeronave foi encontrada incendiada em uma fazenda em Iguatemi. Os investigadores chegaram à conclusão de que os ocupantes colocaram fogo na aeronave depois de fazerem o pouso de emergência.
Depois, em 16 de abril de 2021, um helicóptero fez um pouso forçado no assentamento Itamaraty, em Ponta Porã, após bater na fiação da rede de energia elétrica. Antes de a polícia chegar, o piloto formatou o celular e destruiu o GPS do helicóptero para esconder provas.
Depois disso, no dia 3 de junho de 2021, policiais da região de Nova Andradina e Batayporã apreenderam 250 quilos de cocaína que eram transportados num helicóptero que fez um pouso próximo ao Rio Paraná, já na divisa com o estado de São Paulo.
Meses depois, no dia 20 de outubro, um helicóptero que transportava 246 quilos de cocaína caiu e pegou fogo em uma lavoura em Ponta Porã, a cerca de 35 quilômetros da linha de fronteira com o Paraguai. Os dois ocupantes morreram.
Na semana seguinte, no dia 27, outro helicóptero fez um pouso forçado no município de Batayporã. Ele foi destruído pelo fogo e a investigação apontou que o incêndio foi criminoso para dificultar o trabalho da polícia.
Por último, já neste ano, no dia 9 de fevereiro, dois ocupantes de um helicóptero morreram do lado paraguaio da fronteira, no departamento de Concepcion. As vítimas eram um brasileiro e um paraguaio.
A suspeita é de que a fatalidade tenha ocorrido porque o piloto estava muito baixo e acabou atingindo a rede de energia. E, de acordo com a polícia, a baixa altitude é uma das características de atuação dos narcotraficantes.
O piloto e o helicóptero era brasileiros e os familiares da vítima não souberam informar com exatidão qual o tipo de trabalho ele fazia na região de fronteira entre Brasil e Paraguai.
MOTINHA
Em nenhuma destas nove ocorrências os investigadores informaram os nomes dos proprietários das aeronaves. Porém, em operações da PF no dia 30 de junho e 11 de maio deste ano, a instituição informou que a quadrilha comandada pelo sul-mato-grossense Antônio Joaquim da Mota é especializada no uso de helicópteros para o transporte de cocaína
Informou, ainda, que em menos de três anos apreendeu 13 aeronaves pertencentes ao grupo. Motinha conseguiu fugir de dois cercos policiais montados em maio e junho. Em ambas utilizou helicóptero.