Na última sexta-feira, MS registrou a centésima morte no ano em decorrência de intervenção policial. Número equivale à soma dos dois anos anteriores
“Não é algo em que eu investiria. Acho que nós temos outras prioridades”. Essa é a opinião do governador Eduardo Riedel sobre o uso de câmeras pelas forças policiais de Mato Grosso do Sul. A declaração foi dada nesta segunda-feira (13), três dias depois de o Estado chegar à centésima morte no ano em decorrência de intervenção policial e depois de a Secretaria de Justiça e Segurança pública revelar que está debatendo o uso de câmeras com o Ministério da Justiça.
“A câmera na farda é uma questão altamente complexa. Ela não é barata. Não é só comprar e colocar na farda, por isso tem que ter toda uma estrutura de análise, de monitoramento, de acompanhamento. Pode ser que em algumas especializadas, em algumas situações específicas você possa ter”, ponderou, logo após tecer uma série de elogios tanto à atuação da PM quanto da Polícia Civil.
Sem fazer referência ao número de mortes, afirmou que “a polícia do Mato Grosso do Sul é uma das melhores do Brasil e não sou eu que digo. Isso é dito por todos os indicadores dos anuários que demonstram a sua atuação. É uma polícia capacitada, treinada, que passou por um investimento muito grande. Nossa Polícia Civil é a segunda que mais resolve o crime no Brasil. Isso é muito importante para não cair na vala da impunidade”, pontuou.
Na última sexta-feira, dia em que o Estado atingiu o emblemático número de 100 mortes em decorrência da intervenção policial, a assessoria da Sejusp divulgou nota informando que na terça-feira daquela semana (7), o secretário Antônio Carlos Videira foi a Brasília para participar de reunião em que um dos temas foi o uso de câmeras.
Este encontro, que teve a presença de outros três secretários estaduais, foi com o secretário Nacional da Segurança Pública do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senasp/MJSP), Tadeu Alencar e, com o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Segurança Pública (Consesp), Sandro Caron
Conforme Videira, os gestores da segurança pública defenderam a necessidade de regulamentação, pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, da utilização de câmeras corporais. “Assim teríamos a padronização do uso, pelas forças de segurança de todo o Brasil”, lembrou o titular da Sejusp.
O secretário Nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar, por sua vez, destacou que a ideia da reunião foi “fortalecer a segurança pública dos brasileiros”, conforme nota divulgada pela Sejusp.
O ano de 2023 tem se notabilizado por ser, disparadamente, o de maior letalidade policial em Mato Grosso do Sul. Para efeito de comparação, a soma das mortes de 2021 (49) e 2022 (51) é exatamente igual ao número de mortes em 2023, até agora. Antes, o recorde era de 2019, quando os confrontos policiais resultaram em 70 mortes.
A centésima morte em decorrência da intervenção policial aconteceu na madrugada de sexta-feira (10), em Campo Grande, quando um homem de 22 anos morreu em confronto com PMs. Ele foi flagrado cometendo um furto em um imóvel na Rua 15 de Novembro. Um segundo invasor foi ferido e um terceiro, preso. No local a PM informou ter apreendido dois revólveres.
CÂMERAS REDUZIRAM MORTES EM SP
Conforme dados da Segurança Pública do Estado de São Paulo, desde o início do uso de câmeras corporais pela PM, o número de mortes caiu 61%. Dados oficiais apontam a morte de 256 pessoas por policiais militares em serviço em 2022. É o menor número das últimas duas décadas. Em 2021, foram relatados 423 casos. Em 2020, havia ficado em 659 mortes, conforme números divulgados no começo de 2023.
Adotadas inicialmente em agosto de 2020 e expandidas ao longo de 2021, as câmeras faziam parte, no começo deste ano, da rotina de 179 unidades policiais, em 66 dos 134 batalhões da PM, com mais de 10 mil equipamentos corporais em uso no estado vizinho.