Das 200 ocorrências registradas mensalmente na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente de Campo Grande, 180 são de abusos sexuais. O que impressiona é que, dos casos, apenas 10% são denunciados. Como forma de enfrentar essa grave situação, o Governo do Estado e a Assembleia Legislativa (ALMS) lançaram a segunda edição da campanha Maio Laranja de combate ao abuso e exploração sexual infantil. O evento aconteceu na manhã desta sexta-feira (10), na governadoria, e reuniu diversas autoridades, entre elas o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Paulo Corrêa (PSDB), e o 2º secretário, Herculano Borges (Solidariedade).
“São dados estarrecedores, por isso a importância da união dos Poderes e sociedade civil para interromper o ciclo de violência contras nossas crianças e adolescentes. Durante o mês de maio, serão realizadas diversas ações, como palestras nas escolas públicas. Toda criança precisa de amor e deve ser protegida”, destacou o presidente.
Das denúncias, em cerca de 60% os principais suspeitos são os pais, tios e primos. Herculano salientou que apenas 20% dos casos são cometidos por pedófilos. Ele chamou a atenção para as cicatrizes emocionais geradas pelo abuso. “Essa campanha é necessária, pois as vítimas ficam caladas. Familiares e professores devem ficar atentos aos sinais de depressão, ansiedade, perturbações, falta de apetite, queixas psicossomáticas e comportamentos das crianças. A violência e suas consequências devem ser enfrentadas por todos. A maioria dos crimes acontece em ambiente familiar, ou seja, a família está falhando. A Assembleia Legislativa e o Governo do Estado não estão ignorando esse problema. Estamos contribuindo para sua resolução, por meio de medidas preventivas e levando informações nas escolas”, afirmou Herculano, que é o autor da Lei 5.118, que instituiu o Maio Laranja no Estado.
Mato Grosso do Sul lidera o ranking nacional. “Estamos em primeiro lugar na lista de Estados com maior número de casos registrados. Os índices revelam a necessidade de reflexão. O avanço da tecnologia e dos meios de comunicação resultou na desagregação familiar. O combate ao abuso e exploração sexual infantil é de responsabilidade de todos, pois a maioria dos casos é intrafamiliar”, revelou o governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Segundo a psicanalista e coordenadora do Projeto Nova, Viviane Vaz, o abuso sexual na infância gera culpa e vergonha. “É um conflito muito grande no coração dessas crianças. Elas devem ser acolhidas para atendimento especializado, seus direitos e dignidade precisam ser restaurados. Todos são responsáveis em combater este crime e a impunidade. Serviços como o Disque 100 devem ser divulgados. Também há em Campo Grande um projeto, de iniciativa da Primeira Igreja Batista, que realiza um trabalho de assistência aos sobreviventes do abuso sexual e da prostituição”, informou. Outras formas de ajuda são encontradas nos Conselhos Tutelares, no aplicativo de celular Proteja Brasil e nas delegacias.