Segunda fase deflagrada pelo Gaeco concluiu que 15 pessoas integravam organização criminosa armada de contravenção
A ação dos policiais da Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras) que apreendeu 700 máquinas de jogo do bicho, em outubro, no Bairro Monte Castelo, em Campo Grande, não foi suficiente para inibir uma organização criminosa investigada pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS), que continuou a investir na compra de novos equipamentos para repor o estoque.
De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), a segunda fase da Operação Successione, deflagrada ontem, cumpriu 12 mandados de prisão preventiva e 4 mandados de busca e apreensão na Capital.
A investigação avançou a partir do material apreendido durante a primeira fase da operação, deflagrada no dia 5 deste mês, que revelou o envolvimento de pelo menos 15 pessoas, que integravam organização criminosa armada, estruturalmente ordenada e com divisão de tarefas voltada à exploração ilegal do jogo do bicho em Campo Grande.
Este grupo armado, segundo a investigação do MPMS, praticava roubos com o uso de arma de fogo e restrição da liberdade das vítimas (roubo triplamente majorado), corrupção, entre outros crimes graves.
Entre as pessoas envolvidas, o Gaeco informou que a organização era integrada por policiais militares, um da reserva e um ex-policial militar que foi excluído dos quadros da corporação: o major da Polícia Militar Gilberto Luiz dos Santos, que trabalhava no gabinete do deputado Estadual Neno Razuk (PL), e o sargento Manoel José Ribeiro, mais conhecido como Manelão.
Os ex-policiais, segundo o Gaeco, valiam-se de sua condição, especialmente do porte de arma de fogo, “como forma de subjugar a exploração do jogo ilegal aos mandos e desmandos da organização criminosa”.
Na primeira fase da operação, o trabalho investigativo do Gaeco já havia revelado que a organização criminosa teria “grave penetração” nos órgãos de segurança pública e contava com policiais para o desempenho de suas atividades.
A organização criminosa também era responsável por diversos roubos praticados a mão armada em Campo Grande e atuava dentro do contexto de disputa pelo monopólio do jogo do bicho local.
Durante a primeira etapa da operação, foram cumpridos 10 mandados de prisão temporária e 13 mandados de busca e apreensão nas cidades de Campo Grande e Ponta Porã.
ENVOLVIDOS
Na primeira fase da Operação Successione, três assessores do deputado Neno Razuk (PL) foram presos, o major aposentado Gilberto Luiz dos Santos e seu filho, Diego Souza Nunes, e Manoel José Ribeiro.
O parlamentar negou que tivesse elo com a jogatina em Campo Grande e declarou que não deixaria a função de corregedor da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Já seus três assessores foram demitidos e continuam presos.
Esse grupo de policiais aposentados estaria ligado ao deputado, e a meta, conforme a investigação, seria expulsar da cidade um grupo paulista que teria passado a explorar a modalidade clandestina de apostas desde 2019 em Campo Grande
O envolvimento de pessoas ligadas ao jogo do bicho e ao deputado começou a ser investigado em outubro, quando um assessor do deputado, o major aposentado Gilberto Luiz dos Santos, foi detido em uma residência no Bairro Monte Castelo, em Campo Grande.
Foi constatado que Gilberto estava ligado às 700 máquinas de jogo do bicho apreendidas. Com ele havia outro PM aposentado e outras oito pessoas. A autuação foi feita pelo delegado Fábio Peró, do Garras, o mesmo que investigou o grupo da família Name em 2019.
Ontem, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o pedido de liberdade de três presos na Operação Successione.
Conforme o documento oficial, o pedido foi negado a Diego Souza Nunes, um dos assessores do deputado estadual Neno Razuk, também alvo da operação com mandados de busca e apreensão em sua casa, localizada no residencial de luxo Damha.
Outros que também tiveram pedidos de liberdade negados foram o sargento Manoel José Ribeiro e Valmir Queiroz Martinelli, responsável pela aquisição das máquinas de jogo do bicho apreendidas no Bairro Monte Castelo, em Campo Grande.
MUDANÇA DE “DONOS”
Desde que o grupo que controlava o jogo do bicho em Campo Grande saiu de cena em meados de 2021, depois da Operação Omertà, do Garras, em 2019, a disputa pelo controle da contravenção na Capital ficou aberta.
Conforme informações apuradas pelo Correio do Estado, o grupo anterior teria “arrendado” a operação na cidade para um grupo de São Paulo.
O território livre em Campo Grande também inspirou bicheiros do interior do Estado a disputar espaço na contravenção da Capital.
Nos últimos dois anos, roubos a bancas de jogo do bicho como forma de intimidação das quadrilhas rivais deixaram de ser algo ocasional e tornaram-se frequentes.
O estopim que levou ao desencadeamento da operação foi o uso de armas de fogo, inclusive com a deflagração de vários disparos, em um desses roubos a apontadores.