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Rio Paraguai atinge menor nível em sete anos e navegação segue incerta

Hidrovia volta a embarcar soja em Porto Murtinho, mas escoamento de minério em Ladário continua parado.

O nível do Rio Paraguai em Mato Grosso do Sul registra o menor nível para a data de 26 de fevereiro em sete anos. Conforme dados da Marinha do Brasil, a régua de Ladário marca 0,68 metro e a de Porto Murtinho, 2,12 m.

O escoamento de soja começou a ser realizado na semana passada ainda de forma lenta, e o envio de minérios por meio fluvial não pôde ser retomado.

Segundo especialistas, o ideal para a navegação de barcaças é acima de 1,50 m na cidade de Ladário, mas veículos podem começar navegar a partir do momento em que a régua marca 1,00 m. Já em Porto Murtinho a marcação ideal é de 4,00 m, e navegação consegue ser realizada a partir de 2,00 m.

O escoamento da safra de grãos por meio da hidrovia do Rio Paraguai voltou a ser realizado em Porto Murtinho.

“Iniciamos na semana passada com um comboio de seis barcaças e retomaremos os embarques a partir desta semana, com mais dois comboios”, explica o gerente de operações do Grupo FV Cereais, Genivaldo dos Santos.

O rio amanheceu com 2,12 m ontem em Porto Murtinho, dois metros abaixo daquilo que era registrado no mesmo dia do ano passado, quando o Rio Paraguai atingiu 4,26 m. Em 2018, na mesma data, a régua da Marinha do Brasil registrava 6,00 m de profundidade na região.

Conforme já noticiado pelo Correio do Estado, no ano passado, os embarques de soja começaram no dia 15 de fevereiro em Porto Murtinho, quando o rio estava com 3,40 m, profundidade suficiente para que os comboios deixassem o porto com sua capacidade máxima, isto é, de até 39 mil toneladas – o que equivale a 975 carretas.

No melhor momento do ano passado, em 8 de março, o rio chegou a 5,94 m. Essa cheia foi fundamental para que fossem despachados 1,62 milhão de toneladas de soja pela hidrovia a partir de Porto Murtinho, o que representa quase 12% de toda a safra de Mato Grosso do Sul.
Os embarques foram possíveis até o começo de novembro.

Ainda de acordo com Santos, mesmo com o retorno, o envio de cargas segue incerto e não há uma perspectiva de quantas toneladas de soja serão embarcadas neste ano. “Ainda não temos [uma perspectiva de embarque], pois o mercado está instável e o nível do rio não está colaborando”, considera.

LADÁRIO

Enquanto os trabalhos foram iniciados em Porto Murtinho, o terminal portuário de Ladário segue paralisado. Ontem, o rio atingiu o volume máximo registrado neste ano, com 84 centímetros, ainda abaixo do mínimo para que a navegação comercial possa ser realizada.

Na mesma data no ano passado, a régua da Marinha em Ladário registrava 1,90 m, nível considerável para uma embarcação seguir rio abaixo. “O ano já está comprometido”, afirma Luiz Dresch, gerente da Granel Química, empresa de Ladário que transporta minérios.

Enquanto o rio não registra o mínimo de 1,00 m, o transporte paralisado em novembro do ano passado segue inviável. Conforme já publicado pelo Correio do Estado, em janeiro de 2023, 172 mil toneladas de minérios já haviam sido despachadas dos portos de Ladário e de Corumbá.

Somente a Granel Química embarcou 88 mil toneladas em janeiro de 2023. Neste ano, por conta do aumento da demanda, a Granel poderia ter embarcado 500 mil toneladas se o nível do rio tivesse subido como em anos anteriores.

Durante todo o ano passado, foram embarcadas 5,81 milhões de toneladas de minério a partir de Ladário e Corumbá. Somente em fevereiro, foram 643 mil toneladas, o que equivale a mais de 9 mil carretas. Neste ano, contudo, não existe nenhuma previsão para a retomada do transporte.

Em 2023, os embarques começaram a partir de meados de janeiro – quando o nível do rio passou de 1,00 m em Ladário – e continuaram até o começo de novembro, quando voltou a ficar abaixo do indicado.

A estimativa é de que cerca de 350 carretas com 70 toneladas de minério estejam saindo diariamente de Corumbá pela BR-262. Somadas, porém, elas levam menos de um terço daquilo que poderia ser despachado diariamente pela hidrovia.

FUTURO

A culpa pelo baixo volume de chuva desta temporada é atribuída ao fenômeno El Niño, que deve continuar influenciando o clima até abril, indicando que as mesmas regiões que tiveram pouca chuva de outubro para cá continuem sofrendo.

O pesquisador da Embrapa Pantanal Carlos Roberto Padovani ressalta que quatro dos seis meses chuvosos na bacia pantaneira já se passaram e que a chuva ficou muito abaixo da média.

“Em dezembro, foi menos da metade na cabeceira de praticamente todos os afluentes e nas nascentes do Rio Paraguai”, explica.

Por isso, opina Padovani, “é muito provável que tenhamos muitas dificuldades no transporte hidroviário. Além da falta de chuva, enfrentamos meses de intenso calor, e isso influencia fortemente na queda rápida do nível das águas, já que a evaporação tem papel fundamental sobre a bacia pantaneira”.

FONTE: Correio do Estado

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